sábado, 2 de maio de 2009

"Viver ultrapassa qualquer entendimento."

Um dia caminhando pelas ruas de Nantes me senti livre, estava agora liberto de todas a prisões da vida. Naquela tarde chovia, mas eu não me importava, a água que me banhava me purificava e levava embora todos os sofrimentos, todas as tristezas e trazia alegria, comecei a rir de felicidade, era incontrolável. Quando me dei conta, descobri que não estava sozinho, do outro lado da rua havia uma mulher que me olhava e sorria, ela parecia saber o que eu estava sentindo, ela sabia porque sentia o mesmo. Andei até ela e não trocamos nenhuma palavra, mas aquela alegria que nos contagiava fez com que começássemos a dançar, e dançamos ao som da chuva, no tom do dia, ao passar das horas. Me sentia como se à conhecesse desde muito tempo, não sabia seu nome, nunca ouvira sua voz, mas de alguma forma eu à sabia. Naquele momento ela era minha, era minha e de mais ninguém, eu também era dela, havia nascido e vivido em sua função, minha vida passou a não mais existir antes daquele momento, minha biografia se iniciou ali, aquilo havia se transformado no meu primeiro contato com o mundo real e irreal. Ela era linda e pura, a forma como nossos corpos molhados se movimentavam na mais perfeita sincronia me faziam desejar que aquele momento fosse eterno, que ela fosse eterna e que nunca saísse do meu lado. Ao som da chuva não tinha mais medo, me entreguei de corpo e alma àquilo tudo, não me importava em não entender, só me importava em satisfazer aquela vontade rependina de viver, viver aquilo que eu estava sentindo, viver aquela nova forma de viver, de sentir, de respirar, de olhar, de ouvir, de amar o novo, o inexplicável. Com o olhar ela me dizia coisas fantásticas, como se eu pudesse através das vibrações dos seus olhos saber o que sua boca não precisava falar; através da sua respiração eu sentia seu coração, neste momento uma vontade repentina de chorar me tomou, e chorei, chorei de alegria, chorei por amor. Comecei a contemplar seu rosto, sua pele, sua boca e ela me beijou, foi a melhor sensação que já senti, um silêncio tomou conta de tudo, não ouvia mais a chuva, não sentia mais o dia. Ao fim do beijo percebi que a chuva havia parado, a lua estava linda e imponente sobre o céu, rodeada por estrelas, mas todas contemplavam aquela mulher que estava comigo. Eu não conseguia dizer nada, me faltavam palavras, me faltava voz. "Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento", foi a única coisa que me disse aquela doce voz, depois disso aquela mulher que eu amava e que era minha foi embora, sem ao menos dizer seu nome. Fiquei estático por mais algum momento naquela rua, apenas acompanhando seus passos com o olhar enquanto se distanciava. Queria dizer que a amava, mas não era preciso, ela sabia, sempre soube desde o momento em que me viu.